A compilação dos melhores cliques por três dos principais fotojornalistas de política no Brasil
Você já se viu extasiado ou surpreso com alguma fotografia ilustrando uma capa de revista ou a primeira página de um jornal? Um clique surpreendente que captou a emoção de um acontecimento e que você tem certeza que seria impossível de repeti-lo. Estamos falando da beleza e da arte de uma profissão muito admirada em nosso meio: o fotojornalismo.
“Repórter fotográfico” costuma ser o título da sua identidade funcional nos veículos, o bom e velho crachá. No bolso do colete ou na primeira vaga da carteira, esse cartão estampando a profissão vai além do cargo. Expressa um trabalho árduo que mistura sensibilidade, esforço físico, conhecimento teórico e, claro, habilidades com a câmera. Com cada vez menos botões, esses equipamentos demandam menos traquejo manual, e mais criatividade e marca de autoria nos cliques de quem trabalha. Enquanto meta, a perfeição pode até parecer utopia, mas para os bons fotojornalistas esse adjetivo caminha paripassu aos seus trabalhos.

“Caçadores de Luz: Histórias de Fotojornalismo” (Publifolha, 2008) é uma excelente pedida de leitura para quem almeja trabalhar nessa área ou nutre admiração por esses trabalhadores. O livro é assinado pelos irmãos Sérgio Marques, Alan Marques e Lula Marques, três fotógrafos renomados da cobertura política no Brasil. O trio se dedica à cobertura imagética da capital federal desde meados da década de 1980 e, igualmente, acompanharam muitos dos personagens que escreveram a história do país.
Sérgio passou por “O Globo”, Alan pelo “Jornal de Brasília” e Lula pela “Folha de S. Paulo”. Em todos os veículos, os três compartilham o desafio de produzir fotografia capaz de surpreender em um universo de declarações dos políticos do parlamento, fazer imagens diferentes. É impossível não se pegar imaginando quão maior é essa preocupação atualmente, na era das câmeras no bolso de praticamente todas as pessoas, a um clique nos smartphones.

Em uma das passagens, Sérgio Marques conta uma passagem inusitada. Após uma traumática passagem pelo antigo Ministério da Economia, do governo Collor (1990-1992), Zélia Cardoso de Mello estava deixando a pasta. Sérgio liga para Zélia e pede uma chance de registrar uma imagem diferente dos demais profissionais, e é convidado para um café da manhã. Entre goles de café, uma fotografia que ilustrou a capa de “O Globo” no dia seguinte. A economista está cabisbaixa sentada em um sofá enquanto lê uma carta de apoio. Com a ajuda da semiótica, velha parceira dos estudantes de jornalismo, podemos entender a profundidade do clique diferenciado.

Para não se deixar enganar que esta seja uma profissão apenas das flores, também estão os registros históricos das fotografias mais complicadas. Lula Marques conta a vez em que foi parado pela polícia por excesso de velocidade. O embate com um policial terminou com um tapa do agente em seu rosto e a detenção na delegacia. O motivo? A correria para entregar a fotografia a tempo do fechamento da edição do dia seguinte. O fotógrafo conseguiu um feito praticamente inédito: usou o computador da delegada para enviar as imagens à redação, em São Paulo.

Estas e muitas outras histórias fazem com que a leitura de “Caçadores de Luz” seja única. A linguagem do texto tem leves oscilações, totalmente compreensíveis por ter sido escrito por três pessoas. De um modo geral, os relatos se assemelham a crônicas e, por isso, a leitura é muito agradável.

Para quem é ou não do meio jornalístico, leitura e investimento mais do que recomendados!